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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

IDENTIDADE - A GALERA DO XARPI CARIOCA

Retirado na integra da Monografia de XARPI da URFJ pág 39
Autor: Jones Vieira
Você pode baixar a monografia completa aqui no blog.


Texto fala do Falecido CAIXA.

Na “Xarpilândia”, não se conhecia Pedro Augusto Batista Laurindo, mas sim “Caixa”. Pedro
era um jovem que gostava dos Racionais MC’s e do Gustavo Lins, soltava pipa, tinha um semblante
fechado, não gostava de falar muito. Pela influência de amigos, ganhou outra identidade, a de
pichador. Nascia dessa forma o “Caixa”. A carteira de identidade deste não era uma cédula de papel
plastificada, com o polegar carimbado; e sim os muros da urbe. Não era bilhete de exemplar único,
primeira ou segunda via; mas inscrições que exigiam o máximo de reprodução. A Pedro faltava lugar
para falar e ser ouvido. Caixa, enquanto pichador, era fonte de enunciação, produtor de discursos.
“Caixa” não era um “agente”, “sujeito-agido”, fruto de condições sociais, históricas ou biológicas,
muito menos um “ator”, aquele que apenas completa obras, jamais as cria, impossibilitado de se “tornar
um ser-para-si” (MAGRO, 2003:46). Era, na verdade, autor, criador, genitor de uma identidade que o
situava no mundo e lhe dava um lugar no púlpito. Ele, porém, não estava preparado para tomar seu
posto; colocou suas múltiplas identidades como servas de uma só, a de pichador. Pedro não gostava
de estudar. “Caixa” adorava escrever nos muros. O homem não gostava de trabalhar. O pichador
preferia roubar. Com o tempo, o Pedro passou a ser mero complemento do “Caixa”. O homem passou
a viver em função do “nome”, a roubar para alimentar o vício do pichador. Todas as identidades foram
sublimadas por uma que jamais deveria ter largado o papel secundário. Caixa morreu pichando. Tiros
pelas costas dados por um segurança. Um pouco antes, ele e um companheiro já haviam sido reprimidos
naquele local. O amigo recuou e foi para casa, “Caixa” insistiu. O “nome”, enfim, superou o homem.


A MORTE de “Caixa” noticiada por
um jornal. “Vivendo intensamente a vida
perigosamente/ Sou residente da rua e
na rua a chapa é quente/ Tem guarda
municipal batendo em camelô/ Tem
assaltante assassino e seqüestrador/ Tem
todo o tipo de gente que tu imaginar/ Se
tu tem medo da rua é melhor tu se ligar”
(A rua, MC Leonel)

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